Fragmentos de um texto do Padre Gilmar Antônio

“Ainda que caia, não ficará prostrado, porque o Senhor o sustenta pela mão”. (Salmo 36,24) O chão não é um lugar que todos almejam, de todos os lugares para se estar, seja ele talvez o menos desejado, já que enquanto participantes da realidade dos céus entendemos que o melhor lugar para se estar é sempre perto do coração de Deus - ou seja, em todos os lugares que nos levem a ele, menos o chão. No entanto, existe uma mística que se esconde por trás dessa realidade, existe um sentido e uma explicação na qual mostra porque fazer a experiência do chão é tão importante para nossas vidas.

 

 

 

Estar no chão não é um dos processos mais agradáveis e nem dos mais desejáveis. Ao contrário, estar no chão pode ser um dos processos mais doloroso da nossa vida, momentos daquele dos quais nós jamais desejaríamos passar, momentos que nós nos encontramos diante dos nossos limites, das nossas fraquezas e que não há como fugir delas. Instante em que percebemos todas as nossas feridas e suas causas. Situação que nos obriga a permanecermos sozinhos, isolados de tudo, momentos ainda em que parece que a felicidade nunca habitou em nossos corações e que talvez nunca mais volte a habitar. Momento em que somos apenas nós com nós mesmos. No entanto caro irmão (a) é inegável dizer que estar no chão é um dos mais belos processos que a vida pode nos proporcionar, processo que se faz totalmente necessário e de vital importância.

 

 

 

Em Deus somos chamados a continuar a missão. Somos determinados a continuar a implantar o Reino de amor e fraternidade. Nele temos grandes projetos a edificar. Sem dúvidas em Deus somos conclamados a ser diferentes na compreensão realizada no encontro com o outro dentro da comunidade. Com Deus inserimos com determinação na comunidade para fazê-la crescer e germinar novos frutos, tudo na graça do Espírito que nos impulsiona sermos novos e renovados. Não existe caminho bem definido sem um projeto conquistado, projetado na experiência bem quista. A caminhada se faz dentro de uma compreensão eminente do programa que a própria vida nos determina. Nela vamos abrindo novos horizontes, conquistando espaços diversos. De fato em Deus entramos numa profunda intimidade conosco mesmo perpetrando uma novidade coerente de ser. Assim sem dúvidas, em tudo aquilo que nos circunda Deus nos vai revelando. É preciso, portanto perceber onde Deus se revela em cada circunstância de nosso existir. Talvez as tantas turbulências encontradas na caminhada sejam conseqüências da falta de abertura para o encontro profundo com Deus. Atualmente mais parece que estamos é vivendo uma dimensão totalmente distante da espiritualidade. Mais parece que o caminho não esta surtindo o efeito necessário que nos de entusiasmos a continuar a construir o projeto de Deus. Como está escrito no livro de Gênesis (6, 18), Deus disse que iria estabelecer a sua aliança com Noé. Assim também Deus estabelece uma aliança com cada um de nós no propósito de solidificar o Reino de paz.

 

 

 

Caminhar se torna cada vez mais difícil no mundo que se evolui rapidamente na dimensão tecnológica. Caminhar em meio a tanta dificuldade é penoso e muito doloroso, pois são tantas calamidades e dificuldades encontradas no caminho. A vida se torna difícil devido as provocações encontradas. São tantos os desajustes provenientes das mais variadas culturas e idéias advindas do espaço existencial. Talvez essa maneira de viver a vida tão rápida fazendo do tempo um tempo diferente no modo de ser e de agir seja conseqüência da educação. Daí poder-se-ia perguntar: Que tipo de educação? Qual educação? Talvez a resposta mais idealizadora para este caso seja a educação caseira, aquela advinda do berço, acrescida no seio familiar. Sem dúvidas esta é uma questão que se torna a principio uma problemática que se alastra pela sociedade. Caminhar hoje exige um grande esforço, exige prudência e atenção recíproca nas varias linhas de pensamento e atitudes frentes as realizações a serem tomadas no espaço de tempo que a vida nos apresenta.

 

 

 

Não é fácil sair de nossos modos de pensamentos para aderir a uma nova hipótese construída em fraternidade. Não é fácil sair de dentro de nossos propósitos quebrando os cárceres que nos aprisionam. Talvez o ideal para uma melhor resposta a estas razões seria por primeiro criar idéias chaves que nos faça pensar e agir com segurança na certeza de encontrarmos rumos inovados que possibilitem compreensões justas e concretas. No caminho muitas pedras encontrando, superá-las é um grande desafio. Um desafio que extrapola nosso modo de pensar e agir, exigindo uma resposta corajosa que certifique uma conduta realmente clara e presente. Certamente este procedimento deverá ser abstraído da busca pensada, meditada. Portanto, não se pode mesmo havendo turbulência no caminho, querer se assegurar que não somos capazes de poder vencer os degraus da vida. Estes são somente etapas das quais juntamente com a graça de Deus podemos vencê-las. Por isso se torna importante não deixar de lado a esperança como substrato importantíssimo para chegar ao ideal proposto pelo projeto do Reino de Deus. É na esperança que firmamos nosso compromisso, sem ela não fazemos por donde viver e crescer na fidelidade do caminhar.

 

 

 

 

Estar no chão não é ocasião para sentimento de humilhação ou rejeição, talvez esses sentimentos brotem o que é normal, mas o foco dessa experiência é outro – é oportunidade para aprendizado, é oportunidade para reconhecer as fraquezas, para perceber as feridas, mesmo que todas elas machuquem e ocasione profunda dor, diante de tudo isso é preciso entender algumas coisas.

 

 

Poderia ir mais além ainda

 

 

 

No chão nós deixamos tudo àquilo que não vamos precisar quando estivermos perto do coração de Deus, e caminhando na sua vontade. No chão nós aprendemos a recomeçar – aprendemos que por mais dolorosa que seja determinada situação ou determinada perda nós sempre conseguiremos ultrapassá-la, pois não existe dor alguma que dure eternamente, ao contrário, a dor só domina nossas vidas até o momento em que nós permitimos, quando a contivemos e a colocamos em seu devido lugar o processo de amadurecimento se inicia. Outra coisa importante a ser dita é que quando aprendemos no chão a manusear a nossa vida e a recomeçar isso não quer dizer que nunca mais voltaremos para o chão! Ao contrário, voltaremos quantas vezes por necessário, o chão é um processo que dura até o dia em que passamos definitivamente para o céu.